
Lembro-me com clareza do primeiro atrito que tive com alguém no Seminário. Foi com um jovem que vislumbra o ministério pastoral. Embora não me lembre muito bem do contexto, da situação que nos levou a discutir, lembro-me exatamente da frase: “meu Pai é dono da prata e do ouro. Eu nasci para ser cabeça!”.
Frases triunfalistas como estas dizem muito a respeito de quem as profere. Dizem, por exemplo, que essa pessoa entende as Escrituras como ela quiser. Dizem também qual é a principal motivação dela no ministério – e com certeza, não é a edificação e salvação de almas.
Após ele ter dito a frase, eu disse que Deus nos resgatou do lamaçal do pecado, que Ele nos amou estando ainda nós chafurdando nesta lama, e que Ele pagou o preço pela nossa sujeira bem antes mesmo de nós nascermos. Lembrei a ele que não existe tal coisa como um “cristão perfeito”, e que é somente pela Graça de Deus que não somos consumidos, e não pelos nossos esforços.
Daí eu sou chamado de fundamentalista, de ortodoxo, de puritano.
Antes isso a ser chamado de liberal.
Mas o meu ponto aqui não é este. Meu ponto é lembrar aquilo que a Bíblia, em sua inerrância, nos afirma.
Jesus, ao proferir as bem-aventuranças, em Mateus 5, inicia dizendo que bem-aventurados são os humildes (ou pobres) de espírito, porque deles é o Reino dos Céus. E ao lembrar-nos desta passagem, pensamos em Lucas 18.10-14, na parábola do Fariseu e do Publicano. Enquanto o primeiro se gabava daquilo que, em sua cabeça, o justificava perante Deus (as obras da carne), o Publicano, de cabeça baixa, batia no peito e afirmava que era um pecador. E este foi para casa justificado por Deus, “pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lucas 18.14).
O humilde de espírito reconhece que não possue méritos diante de Deus, e por isso, confia somente nEle para ser justificado. O Humilde de espírito sabe que não há obras suficientes no mundo, nem no universo, que ele possa fazer para auto-justificar-se. Somente pela Graça e Misericórdia de Nosso Senhor é que alcançamos tal justificação.
Lembramos ainda de Tiago 4,6: Deus se opõe ao orgulhoso, mas dá graça ao humilde.
Esse irmão esquece que Jesus também disse em Mateus 18 que quem quiser ser o maior no Reino dos Céus, deverá ser humilde como uma criança (Mateus 18,4), e não astuto como uma víbora.
Esse irmão esqueceu do que o Apóstolo Paulo disse em Filipenses 2, 5-11:
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, o qual, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!
Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.”
Servimos a um Rei humilde, que pede a Seus servos que mantenham a humildade de uma criança, para assim serem grandes.
Essa é a loucura do Evangelho, que nem mesmo os Cristãos entendem.
Que Deus nos ajude.
A Graça e a Paz.
Duda
Texto originalmente publicado aqui em junho de 2006.