03 dezembro, 2008

Chamados à Humildade



Lembro-me com clareza do primeiro atrito que tive com alguém no Seminário. Foi com um jovem que vislumbra o ministério pastoral. Embora não me lembre muito bem do contexto, da situação que nos levou a discutir, lembro-me exatamente da frase: “meu Pai é dono da prata e do ouro. Eu nasci para ser cabeça!”.

Frases triunfalistas como estas dizem muito a respeito de quem as profere. Dizem, por exemplo, que essa pessoa entende as Escrituras como ela quiser. Dizem também qual é a principal motivação dela no ministério – e com certeza, não é a edificação e salvação de almas.

Após ele ter dito a frase, eu disse que Deus nos resgatou do lamaçal do pecado, que Ele nos amou estando ainda nós chafurdando nesta lama, e que Ele pagou o preço pela nossa sujeira bem antes mesmo de nós nascermos. Lembrei a ele que não existe tal coisa como um “cristão perfeito”, e que é somente pela Graça de Deus que não somos consumidos, e não pelos nossos esforços.

Daí eu sou chamado de fundamentalista, de ortodoxo, de puritano.

Antes isso a ser chamado de liberal.

Mas o meu ponto aqui não é este. Meu ponto é lembrar aquilo que a Bíblia, em sua inerrância, nos afirma.

Jesus, ao proferir as bem-aventuranças, em Mateus 5, inicia dizendo que bem-aventurados são os humildes (ou pobres) de espírito, porque deles é o Reino dos Céus. E ao lembrar-nos desta passagem, pensamos em Lucas 18.10-14, na parábola do Fariseu e do Publicano. Enquanto o primeiro se gabava daquilo que, em sua cabeça, o justificava perante Deus (as obras da carne), o Publicano, de cabeça baixa, batia no peito e afirmava que era um pecador. E este foi para casa justificado por Deus, “pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lucas 18.14).

O humilde de espírito reconhece que não possue méritos diante de Deus, e por isso, confia somente nEle para ser justificado. O Humilde de espírito sabe que não há obras suficientes no mundo, nem no universo, que ele possa fazer para auto-justificar-se. Somente pela Graça e Misericórdia de Nosso Senhor é que alcançamos tal justificação.

Lembramos ainda de Tiago 4,6: Deus se opõe ao orgulhoso, mas dá graça ao humilde.

Esse irmão esquece que Jesus também disse em Mateus 18 que quem quiser ser o maior no Reino dos Céus, deverá ser humilde como uma criança (Mateus 18,4), e não astuto como uma víbora.

Esse irmão esqueceu do que o Apóstolo Paulo disse em Filipenses 2, 5-11:

“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, o qual, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!
Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.”

Servimos a um Rei humilde, que pede a Seus servos que mantenham a humildade de uma criança, para assim serem grandes.

Essa é a loucura do Evangelho, que nem mesmo os Cristãos entendem.

Que Deus nos ajude.

A Graça e a Paz.

Duda

Texto originalmente publicado aqui em junho de 2006.

5 Comments:

Blogger A descoberta!!! said...

Véi!!!
O cara que te chamou de liberal é muito burro e o professor Girafales tem que dá zero pra ele!!!

Abs,

Sandro

8:31 AM  
Blogger Elly Aguiar said...

Edu,
O Evangelho de Jesus Cristo de Nazareth essencialmente passa pela submissão, humilhação e lágrimas.
Por outro lado, dentro dessa piração triunfalista, tudo é over. Se calar diante a presença transformadora de Deus não é o bastante, preciso mais que isso, preciso ver um anjo, preciso levitar, do contrário a experiência não está completa. A impressão é que para ser cristão nos dias de hoje, é preciso ter uma experiência transcedental, ultra-cósmica, não há espaço para coisas singelas, como o parar diante do espelho e refletir.
A impressão é que Deus é um tremendo barulho. O outro ponto é que nessa teologia, tudo que é ruim é pecado e provém do Diabo, e tudo que é bom é benção e vem de Deus, que perigo!!! Não é à toa que nunca os divãs dos psicólogos abrigaram tantos "crentes". . .
Abraço,
Elly Aguiar
http://ellyaguiarmusic.blogspot.com/

1:42 PM  
Blogger André Decotelli said...

“à frente da glória caminha a humildade” (Pv 15.33, Bíblia do Peregrino)

3:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

Cara tem pouco tempo que comecei a ler sue blog(digitei algo sobre Rob Bell no google,e apareceu suas impressoes sobre o Livro dele)Gostei bastante dos Posts,sobre o assunto que voce aborda,eu congrego numa igreja penteca(Assembleia de Deus).Cara e esses jargões estão me deixando com nojo,pq é isso q ta virando,versiculos biblicos lançados como se fossem simpatias,principalmente por aqueles que prefessão a teologia da prosperidade,pelo menos é o que tenho visto!!
Um abraço cara,Deus continue te abençoando

Chopan!!

5:19 PM  
Blogger Eduardo Mano said...

Sandro, Elly, André e "Chopan"(?),

Obrigado pelos comentários.

De forma geral, vocês sabem duas coisas a meu respeito: 1 - sou contra o (falso) evangelho triunfalista da prosperidade, e faço minhas as palavras do Pr. John Piper no vídeo onde ele aborda o assunto. 2 - Sou assumidamente ortodoxo, amo a palavra de Deus e Sua Igreja.

Toda doutrina que surgiu com a pós-modernidade, cheia de relativismos e subjetividades é horrenda, pois tenta um princípio básico cristão: o de que EXISTE uma verdade. E como chegamos a ela? sendo humildes e reconhecendo o senhorio de Cristo em nossas vidas.

Pq escrevi isso tudo? Não sei. :)

Valeu pelos comentários, galera!

3:27 AM  

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