03 julho, 2008

5ª Teológica



Na última 5ª Teológica que tivemos (há um bom tempo atrás), o Pr. David me pediu que escrevesse algo sobre dança. Daí eu pensei: por que não falar sobre aquilo que, bem, para grande parte dos cristãos é (a) tabu e (b) pecado?

Então lá vamos nós.

Danças, bebidas e sexo têm em comum o fato de estarem muito presentes no meio secular e no meio cristão. É claro que não exatamente da mesma forma, mas enquanto no meio secular temos a dança como algo erotizado (como na quase extinta lambada, no axé, no funk, no samba...), a bebida como um grande mal (pois seu uso é abusivo, e o efeito do abuso é o vício) e o sexo como algo deturpado (abuso infantil, sexo antes do casamento, troca de casais e assim por diante.

Já no meio cristão temos a dança litúrgica (presente em quase todas as Igrejas hoje em dia), o uso do vinho na ceia (é claro que nem todas as Igrejas aderem a esta utilização) e o sexo dentro do casamento.

Será que o uso de interseções entre os grupos é algo benéfico? Será que nós, como cristãos, podemos entender a forma como o mundo vê a dança, a bebida e o sexo como algo saudável?

Vamos ver o que a Bíblia nos diz.

Dança:

Não temos dúvidas que a Bíblia nos dá comando para que louvemos a Deus com danças (Salmo 149:3 – NVI, Salmo 150:4). A Bíblia também nos ensina que o rei Davi dançava, com todas as suas forças, na presença de Deus, quando a Arca foi trazida de volta a Jerusalém (2Samuel 6:12 a 19, para todo o contexto). Fica claro a qualquer bom entender que o louvor a Deus com danças é algo agradável a Deus e completamente plausível. Entretanto, a Palavra de Deus também nos dá exemplo de momentos em que a dança foi usada de forma sensual para promover o mal, como por exemplo, em Mateus 14: 1-12, quando a filha de Herodias dançou de forma a seduzir Herodes e pedir a cabeça de João Batista em um prato. Também, quando Arão construiu o bezerro de ouro, e o povo dançou de alegria por um deus inanimado, e isso desagradou ao Senhor (Êxodo 32:35).

Bebidas:

Quem nunca ouviu a seguinte frase, “quando a Bíblia fala em vinho, na verdade quer dizer suco de uva”, que atire a primeira pedra. Isso está muito longe de ser verdade. A Bíblia de fato fala em suco de uvas, mas fala (e em maior número de vezes) também no vinho (sim, o alcoólico). Alguns exemplos clássicos são a transformação de água em vinho, no casamento em Caná, por Jesus, em João 2 (o fato de servirem o bom vinho antes do ruim é que bêbados não distinguem vinho bom de vinho ruim, querem apenas seu efeito). Jesus também é confundido com um beberrão, em Mateus 11:18-19. Paulo também lembra da bebida a Timóteo, quando diz que um pouco de vinho ajudaria na saúde de seu discípulo (1Timóteo 5:23). Entretanto, dos muitos exemplos que a Bíblia dá do uso errado e abusivo da bebida, mantenho as palavras do apóstolo Paulo em Efésios 5:18, quando diz que não devemos nos embriagar com o vinho, onde há dissolução, mas antes, eu nos enchamos do Espírito.

Sexo:

Dos três, aqui é onde, creio, enfrentamos maiores problemas, justamente por levarmos a questão para lados extremos. Uns permitem que a prática sexual venha antes do casamento (o que é errado, tendo em vista que “é melhor casar do que viver abrasado” - 1Coríntios 7:9), o que leva à fornicação, uma vez que para cada relacionamento, o fim é a cama, e não o altar. Outro, por outro lado, não entendem que o sexo é algo lindo a ser desfrutado liberalmente pelo casal dentro do casamento, como vemos em Cantares. Enfatizei de maneira redundante o "liberalmente pelo casal", pois há também a libertinagem dentro do casamento, o que nos leva a sociedades como Sodoma e Gomorra e, bem, nós sabemos o que foi feito delas.

Uma visão saudável

Creio que antes de taxarmos esses itens como pecaminosos, devemos procurar conviver com eles de maneira harmoniosa e, antes de tudo, de maneira a glorificar a Deus em todas as coisas. Pois não há glória a Deus quando fazemos as coisas de maneira displicente, sendo pedra de tropeço aos nossos irmãos e aos não crentes.

Não há nada de errado na dança, principalmente quando a vontade de dançar está relacionada à vontade de se divertir. E não há nada de errado em nos divertirmos. Então não vejo objeções ao fato de cristãos saírem para dançar, mesmo que em lugares onde a luz de Cristo não brilha. Isso, no entanto, deve ser visto como uma responsabilidade: como posso entrar nesse lugar, me divertir, dar glórias a Cristo, e ainda assim não envergonhar o Evangelho, sendo luz e diferença naquele meio? Uma boa forma de começar seriam as roupas, que não deveriam ser escandalosas. Outra forma seria o jeito de dançar, se afastando ao máximo da sensualidade, e creio que isso é possível. Também não creio que a pessoa deva fazer publicidade do que faz na Igreja, como forma de não ser escândalo aos irmãos – embora, certamente, o pastor deveria saber de tais práticas.

Também não vejo nada de errado com o consumo responsável de bebidas alcoólicas, principalmente se você for maior de 25 anos, ou casado. Beber de maneira responsável significa dizer que o álcool não tem domínio sobre você, que você sabe a hora de parar e principalmente, sabe até mesmo a hora de não beber nada. O fato do homem ou da mulher ser casados implica dizer que há alguém responsável por você, alguém a quem você ama e que te ama, e que saberá dizer não quando necessário. Creio que não há nada de errado em freqüentar bares, embora creia que, se alguém vai consumir álcool, é melhor que o faça em casa. A lei brasileira agora diz que quem está dirigindo não pode ingerir nem mesmo um gole de álcool, e creio que essa seja uma excelente medida. Além disso, se o fato de você consumir álcool é pedra de tropeço para você, um irmão ou até mesmo um não crente, sugiro que você peça perdão e não beba perto dessa pessoa, embora, aos não crentes, creio que possa existir uma correta interpretação da bebida e da forma como a Palavra de Deus a apresenta.

Já em relação ao sexo, creio que ele deve ser desfrutado apenas dentro do casamento. Muitos alegam que pode haver incompatibilidade entre o casal, e isso é uma tremenda idiotice. Se é assim, então a tal “compatibilidade” deve ser testada com cada um dos homens ou das mulheres com os quais temos algum relacionamento? Isso é prostituição, mas sem nenhum lucro para ambas as partes. Apenas o sofrimento e os riscos de doenças e gravidez indesejada. Uma vez dentro do casamento, creio que o casal deva entrar em acordo quanto ao que se espera um do outro, e também sobre outras práticas sexuais entre ambos. E venha o que vier Deus, por Seu amor e graça, tornará o casal compatível. É importante também dizer que a pornografia é pecado, bem como toda e qualquer prática sexual que não dê glória a Deus, como o adultério, homossexualismo, troca de casais e assim por diante.

O Catecismo de Westminster nos ensina o seguinte:

Qual é o fim supremo e principal do homem?

Resposta. O fim supremo e principal do homem e glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. (Rom. 11:36; 1 Cor. 10:31; Sal. 73:24-26; João 17:22-24.)

Devemos sempre, e em tudo, dar sempre glórias a Deus através de nossa vida e atos. Quer dancemos, quer bebamos, quer façamos sexo, façamos tudo para a glória de Deus.
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A 5ª Teológica acontece, obviamente, toda 5ª feira. Você pode enviar dúvidas teológicas e bíblicas para o e-mail eduardomanoebanda@gmail.com ou escrevê-las nos comentários. Além das dúvidas, publicaremos artigos, estudos, ensaios, mensagens e o que mais crermos que for para a edificação do Corpo de Cristo.

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